Betina Roxo, analista sell side da XP, fez uma entrevista com Fernando Tennenbaum, CFO da AmBev desde mai/18. Video no link.
Foi uma conversa educativa, com o CFO explicando os grandes números da companhia e sem dar um indicativo claro de quando as coisas vão efetivamente melhorar.
Fernando está há 15 anos na AmBev e já passou por várias áreas diferentes. Ele comentou que consumidor quer mais opções e quer beber diferentes marcas em diferentes ocasiões e ter um número maior de embalagens.
O meu entendimento é que tendo várias embalagens (SKUs) é possível testar elasticidade de uma maneira mais ampla que ter apenas 1 ou 2 produtos.
Houve o trade down de produtos que o brasileiro médio consumia para produtos de um ticket médio menor, principalmente por causa da crise. A grande questão é se haverá o trade up (migração para produtos mais premium) e quando ele ocorrerá. Fernando acredita no trade up, mas não comentou datas.
Ele acredita que ocorrerá quando houver a retomada da economia e premium passará a ter uma participação maior no consumo do cliente. Eu entendo que o brasileiro médio não toma/tomará Budweiser/Stella. O core é (e sempre será) Skol/Brahma/Antarctica.
Fernando também falou sobre os produtos desenvolvidos localmente como a Nossa, em que há um desenvolvimento da comunidade local, foca em menos SKUs e possui a meta de ter a mesma margem dos outros produtos. Na minha visão são produtos não negativos. AmBev se esforça para
Betina questionou sobre competição e ele respondeu que competição sempre houve (menos nos países em que AmBev domina tudo, huahuauha) e que pessoas são o grande diferencial competitivo. Na minha visão o problema é que os profissionais às vezes são tão bons que seus substitutos possuem dificuldade de superar eles, o que gera uma certa decepção.
Sobre canal de distribuição, essa dinâmica de focar em comprar em mercados e menos em bares está corroendo as margens da companhia.
Enquanto você aceita basicamente qualquer preço no bar, no mercado você consegue comparar (sóbrio) vários preços de cerveja. O pricing power da AmBev no mercado é muito pior.
O CFO falou tão bem do bar que fiquei surpreso com a divisão das vendas da companhia: 60% bar (on trade) e 40% mercado (off trade), achei que era muito maior a parte do bar.
Fernando enfatizou que fazem hedge dos custos, então não levam susto e política de preço da companhia não é guiada por causa de custos. Produtos populares como Skol/Brahma deveriam ter no máximo reajuste de inflação ao longo dos anos. Entendem que (por algum motivo) preço de commodities deveriam acompanhar inflação, o que não concordo.
Foco da companhia é incentivar a maior consumo de produtos premium, mas infelizmente a base da cadeia não vai consumir este tipo de produto. AmBev quer estar exposta a toda a cadeia.
Algo anedótico que ele comentou é que na América Central/Caribe o consumidor médio da AmBev demora mais de 30 minutos para chegar em um local para comprar cerveja, enquanto no Brasil o tempo médio gasto para atingir um local de venda de cerveja é menos de 30 minutos.
Ainda há muitas oportunidades em diversos países menores, mas o core da AmBev é o Brasil. Enquanto não resolverem esse “problema”, papel vai ficar patinando.
Uma vez o Credit Suisse fez um relatório em que mostrava que a porcentagem que o brasileiro alocava para cerveja era em média estável ao longo dos anos (1.8%). Então a renda média do brasileiro tinha de aumentar para ele ao menos fazer o trade up para produtos mainstream.
Gosto de ficar vendido em AmBev, o risco de ela decepcionar é muito maior do que ela surpreender o mercado.
A recomendação da XP é neutra (preço alvo de 18 reais) e pode ser vista aqui.