Thiago Salomão fez um Stockpickers no evento da XP em Florianópolis.
Estavam Florian Bartunek da Constellation, Cassio Bruno da Moat e Duda Rocha da Occam.
Introdução
O cerne da discussão eram as diferentes maneiras de se fazer value investing. Enquanto Florian tem um “caráter raiz”, Cassio é agnóstico e Duda olha mais a parte macro.
Florian começou dizendo que saber o que fazer em termos de valuation/value investing não é difícil. O difícil é executar e não deixar que as emoções te controlem.
Value investing não é necessariamente comprar barato, e sim comprar ativos abaixo do que eles realmente valem. Florian já teve sucesso com empresas de P/L alto e fracasso com empresas de P/L.
Um único indicador não significa muito para decidir se vale a pena investir na companhia.
Há várias maneiras de ganhar dinheiro. O que não pode acontecer é converter estratégia value investor em trader e vice-versa.
A proposta de value investing é mais para o longo prazo.
As ações em que você permanece por mais tempo normalmente são as ações que você ganha mais dinheiro.
Regras básicas: conheça profundamente o ativo, entenda a qualidade do negócio e das pessoas e faça acompanhamento do investimento.
Depois você olha o preço, a qual preço que vale a pena comprar.
Existem várias empresas listadas na bolsa ao seu redor. Você inevitavelmente sabe quais empresas você admira e gosta. Eu tendo a fugir um pouco desta parte de proximidade pois as pessoas que gostam demais de uma companhia costumam ter dificuldade de sair delas.
Cassio lembra que cada um tem o seu apetite de risco e você investe no que deveria ser adequado ao risco que você quer correr. E isso na prática significa ter estômago.
Às vezes estar na contra mão do mercado.
A proposta da Moat é ganhar dinheiro na mudança de percepção/mudança da dinâmica de determinada companhia.
Decidiram investir em Rumo 4 anos atrás quando todo mundo achava que a companhia iria quebrar. Ela não quebrou, deu certo e virou top pick de várias corretoras.
Cassio comentou que o gestor tem 2 opções: errar tamanho ou errar case. O problema de errar tamanho é que pode levar um baque muito grande que te tira do mercado. A ideia é então evitar errar o tamanho.
Duda, pela sua visão macro, gosta de pegar temas globais e trazer ao Brasil.
O maior tema global hoje é tech e quais vantagens competitivas podem ser criadas/destruídas por causa da tecnologia.
Duda se preocupa com que a empresa entregue crescimento (pois gringo compra crescimento nessa toada de juros baixos).
Argentina
Ela ainda não resolveu seu problema fiscal e necessitava de financiamento externo. Há um problema de solvência, enquanto o Brasil já superou isso com a reforma da previdência.
No stress da Argentina (queda de 50% no dia), Duda não quis fazer nada. Ainda não tem conforto com o país.
Com desaceleração global, vários gringos decidiram focar em seu ciclo de competência (EUA/Europa), deixando mercados emergentes de lado.
Bancos
Cassio tem Banco do Brasil por uma aposta em melhoria de governança. E Itaú pois o dividend yield atualmente é maior que o CDI.
Itaú é um bom alocador de capital e irá se reinventar (não irá morrer).
Florian entende que nos últimos 30 anos houve uma grande concentração no mercado financeiro e os próximos 30 haverá uma “desconcentração”. Fintechs estão desenvolvendo uma estrutura em que o dinheiro não passa pelos bancos (e isso será irreversível).
Ele tem consciência que 85% das fintechs vão morrer, 10% serão compradas e 5% vão realmente bombar.
Duda olha para os EUA como o Brasil daqui a 2 anos e não fica muito feliz quando olha para bancos americanos.
Exige no mínimo um upside de 15% para entrar em um papel e hoje os bancos brasileiros não entregam isso para ele.
Como juros foram muito altos por muito tempo, o poder de barganha dos bancos era muito grande. Isso forçou as pessoas a serem receptivas com o novo entrante (fintechs).
B3
Duda olha para a B3 como um IBOV alavancado por ganhar dinheiro no aumento de liquidez e no maior Market cap da bolsa como um todo.
Além dos desinvestimentos do BNDES, teremos uma migração forte de renda fixa para renda variável.
EQTL/ENGI
São papeis bons redondos e que entregam. Pode não ser o papel que irá performar melhor na bolsa mas compõem bem a carteira.
3 pontos para ser um bom gestor: (i) escolher bem as empresas; (ii) tocar bem o portfolio (saber alocar e compor bem o portfolio); (iii) ter uma boa base de cliente (que não resgata quando cai e aplica quando sobe).
Duda gosta da dupla, mas não gosta do nome defensiva. Acredita em uma redução do spread da TIR implícita das companhias com a NTNB.
Cassio prefere CCR/ECOR por uma questão de regulação. No caso das elétricas, o crescimento vai para a população e em rodovias o crescimento econômico vai para as empresas.
E fluxo de estradas costuma ter um multiplicador acima do PIB (1.2x historicamente). Se PIB cresce 1%, fluxo de estradas deveria crescer 1.2%.
O engraçado é que nunca vi uma empresa com múltiplo de PIB abaixo de 1x.
GGBR
Houve uma desaceleração global (menor consumo de aço) e Brumadinho (preço do minério subiu), reduzindo margens de siderúrgicas.
Olhando para Brasil, empresas de real estate estão precificando um crescimento muito forte, o que irá aumentar a demanda de aço local.
Moat comprou GGBR no fundo long only e long GGBR short Nucor (concorrente da Gerdau nos EUA) no fundo long bias.
PETR
Florian não tem preconceito com Petrobras.
Cassio enxerga crescimento na produção (enquanto peers globais não possuem) e leilão foi positivo para ela (ruim para o país, mas bom para ela). Venda de refinarias tira a possibilidade de novo controle de preços.
Duda está long PETR e short majors de petróleo. Aposta em mercado se surpreendendo com crescimento de produção, pois ninguém está pagando na frente isso.
Ações que acertaram em 2019
Florian – CNTO
Cassio – BRF
Duda – MGLU
Ações que gostariam de ter acertado
Florian – BRF
Cassio – UGPA
Duda – JBS
Ação que apostam para 2020
Florian – B3
Cassio – GGBR
Duda – JBS